28/11/23
NotíciaTDAH x Neurofeedback
Por Conceição Barbosa*
Pessoas com Transtorno de Déficit de Atenção (TDA) e Transtorno de Hiperatividade (TDAH), ferimentos na cabeça, derrame cerebral, epilepsia, problemas de desenvolvimento, e muitas vezes síndrome de fadiga crônica e fibromialgia, tendem a apresentar um excesso de ondas cerebrais lentas. O que significa que quando essas ondas lentas estão presentes na parte executiva do cérebro (parte frontal), torna-se difícil controlar a atenção, o comportamento e/ou as emoções. O resultado prático é: pessoas com esses sintomas geralmente tem problemas com a atenção, memória, com o controle de seus impulsos e estados de espírito, ou com a hiperatividade. Elas têm dificuldade em concentrar-se e presentam eficiência intelectual diminuída.
O transtorno de déficit de atenção com hiperatividade (TDAH) se caracteriza por sintomas de desatenção, inquietude, hiperatividade e impulsividade exacerbados, geralmente percebidos antes dos sete anos de idade. No entanto, por serem sinais subjetivos, o diagnóstico é feito com base em avaliações médicas, de desenvolvimento e educacionais, a fim de ser mais assertivo. Assim, é possível começar o tratamento adequado para o crescimento da criança sem prejuízo ao seu desenvolvimento social, cognitivo e de aprendizado. Porém há casos de diagnósticos tardios, já na fase adulta.
O TDAH é um distúrbio do desenvolvimento neurológico, com causa genética, que surge na infância e acompanha as pessoas até a vida adulta em metade dos casos. A diferença entre TDA e TDAH é que enquanto o Transtorno de Déficit de Atenção engloba os sinais e sintomas de desatenção, o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade inclui também sintomas de hiperatividade e impulsividade.
Em um cenário mais complicado, muitos pacientes têm outras comorbidades, e não somente o TDA/H. Assim, necessitam de uma avaliação adequada e rigorosa para iniciar o tratamento de neurofeedback.
O que é Neurofeedback?
O treinamento de neurofeedback é um biofeedback (método que mede respostas do corpo em determinadas situações) com eletroencefalograma (através de ondas cerebrais). Durante um treinamento típico, um ou mais eletrodos são colocados sobre o couro cabeludo, e um ou dois são geralmente colocados nas orelhas. Então, equipamentos eletrônicos de alta tecnologia proporcionam um feedback instantâneo em tempo real (geralmente auditivo e visual) sobre sua atividade de ondas cerebrais.
Normalmente, os pacientes não podem influenciar seus padrões de ondas cerebrais de forma confiável por não terem consciência deles. No entanto, quando podem ver suas ondas cerebrais em uma tela de computador alguns milésimos de segundo depois delas ocorrerem, eles adquirem a capacidade de influenciá-los e, gradualmente, mudá-los.
Esse mecanismo de ação é geralmente considerado um condicionamento operante. Estamos literalmente recondicionando e treinando o cérebro. Em um primeiro momento, as mudanças são de curta duração, mas elas tornam-se gradualmente mais duradouras. Com o feedback contínuo, treinamento e prática, geralmente é possível treinar padrões mais saudáveis de ondas cerebrais na maioria das pessoas.
Tratamentos
Em casos de epilepsia o tratamento medicamentoso é indicado, mas o uso de medicamentos anticonvulsionantes a longo prazo pode apresentar riscos à saúde. Quando o tratamento medicamentoso não é bem-sucedido, a neurocirurgia é muitas vezes recomendada, mas tem sucesso limitado. Já o neurofeedback pode ser incorporado ao tratamento, com potencial de controle das convulsões, permitindo uma redução na dosagem de medicamentos e ajudando a evitar a neurocirurgia.
Contusões e lesões na cabeça (Trauma Cranioencefálico e Acidente Vascular Cerebral) que causam problemas emocionais, cognitivos e comportamentais podem ocorrer como resultado de vários fatores no dia-a-dia. Tradicionalmente, fisioterapeutas e médicos de reabilitação dizem àqueles que sofreram trauma craniano que, decorrido um ano e meio após o trauma, não é possível esperar melhoras adicionais, e que o paciente deve simplesmente se ajustar às suas deficiências. Mas as pesquisas e a experiência clínica indicam muito claramente que o neurofeedback pode muitas vezes produzir melhoras significativas, mesmo muitos anos depois de um ferimento na cabeça.
Pacientes com quadro de Autismo e Síndrome de Asperger também tem uma resposta significativa com o uso do neurofeedback, como melhora nos índices de atenção, impulsividade, atenção auditiva e visual, leitura, ortografia, aritmética, alémde um ganho médio de QI de 9 pontos.
No geral, o neurofeedback tem o respaldo das pesquisas como um tratamento benéfico para os problemas do espectro do autismo, com relatos de mudanças positivas na função cerebral, atenção, QI e impulsividade, bem como nas avaliações dos pais em relação a outros problemas de comportamento, tais como comunicação, comportamento estereotipado e repetitivo, interações sociais recíprocas e sociabilidade. Embora certamente não seja uma cura para essas condições, parece geralmente produzir melhoras significativas nestas condições crônicas.
Pacientes com ansiedade e depressão também tem respostas positivas com o uso desse tratamento. Um estudo realizado no Royal College of Music de Londres, avaliou a ansiedade da performance. Foi testado a eficácia do treinamento de neurofeedback de alfa e theta (ondas cerebrais: alfa é responsável pelo estado de relaxamento profundo, e theta refere-se a um estado de baixa consciência) para melhorar o desempenho musical de músicos talentosos, enquanto se apresentavam sob condições estressantes nas quais seu desempenho estava sendo avaliado.
Quando comparado com o grupo de tratamento alternativo (exercício físico, treinamento de habilidades mentais, treinamento da técnica de Alexander e outros dois protocolos de neurofeedback que se concentravam mais no reforço da concentração), apenas o grupo de neurofeedback alfa e teta apresentou melhora na performance musical sob estresse.
*Conceição Barbosa é psicóloga e neuropsicóloga amazonense formada pela Clínica Rede Napen – (USP) em Neuromodulação e Neurofeedback/Biofeedback pela Brain-Trainer USA. É fundadora do Instituto de Neuropsicologia do Amazonas (Inepam) e foi pioneira no serviço de Reabilitação Neurocognitiva associado à neuromodulação clínica na Região Norte.
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